Entramos no jogo! Boas-vindas à JogaMana

Vamos começar pelo começo: é preciso abrir a caixa. Revelar e colocar para fora os componentes, destacá-los das cartelas, verificar o manual. Compreender que, por mais variadas as possibilidades que um jogo ofereça, cada ação da partida ainda está sujeita à qualidade de normas, mecânicas, temáticas.

Antes mesmo disso, há ainda a escolha: que caixa, afinal, abrir? Qual título? O que é possível e, do possível, o que é preferível? E, claro: quem vai compor a mesa?

Uma engenhosa assimetria está posta às personagens nesse processo – que é, talvez, um macrojogo que precede a própria mesa. Assim, há ações supostamente simples, muitas vezes fundamentais, que apenas alguns jogadores são autorizados a fazer.

Ao inaugurarmos a JogaMana, nós, jogadoras interessadas em exercer nosso hobby, tomamos às mãos o trabalho de design daquilo que, inevitavelmente, está em jogo para as personagens que nos representam nessa assimetria notável.

Queríamos – queremos! – compartilhar desses espaços de diversão, de exercício e construção da cultura geek, e de um misto todo próprio de leveza (dos risos, da apreciação, da fantasia) com densidade (da estratégia, do desafio, da concentração), que vemos na prática boardgamer.

No entanto, notamos a falta de mesas abertas a algo aparentemente tão simples. Onde entrávamos, os assentos eram sempre muito apertados, o ar rarefeito, e os risos, a apreciação e a fantasia… bem, nunca para nós, nunca conosco. Algumas vezes, é verdade, parte disso falava de nós, desenhava-nos, mas tão somente para sugerir que nosso lugar ali talvez fosse o do imaginário, o das peças – nunca o das mãos.

Eis aqui, então, nosso primeiro protótipo: sua base são tiles¹ que operam como um tabuleiro modular², em crescimento ilimitado, enquanto houver componentes. Que componentes? São as tais personagens: mulheres, homens, pessoas de diferentes trajetórias e origens; cada grupo com sua pontuação atual de privilégios e instrumentos, que se equalizam ou se distanciam de acordo com os eventos acionados, com a presença de mais ou menos meeples³ em jogo, e a forma de ocupar os tiles.

A mecânica é o controle de área, e no setup⁴ inicial só há “meeples mulheres”, ocupando o tile que começa ao centro. A ocupação dos tiles que virão a seguir, descobriremos ao longo de cada rodada, conforme a estratégia determinar.

O objetivo é compor um grande cenário de espaços variados, em que a diversidade de personagens presentes seja equilibrada, e em que se chegue o mais perto possível da equalização de pontos dos grupos representados. Há, certamente, um referencial de piso, isto é, um mínimo a ser conquistado para considerarmos a vitória. Talvez já esteja notável, mas vale dizer: o jogo é cooperativo.

Este blog é um dos tiles em jogo, que preencheremos de análises, resenhas, reflexões, sugestões, indagações, e o que mais entendermos que interessa ao público gamer, que, senhoras e senhores, somos nós.

Montamos a mesa com o que temos e vamos testar sem prazo. Palpites construtivos de qualquer pessoa são bem-vindos. No entanto, cabe a nós decidir acioná-los ou descartá-los conforme forem bons ao jogo e à nossa estratégia.

Para saber como essa jornada segue, acompanhe a #jogamana e venha participar dessa construção!

Nossa partida começa agora.

---

¹tiles: componentes (peças) achatados, em espessura e densidade maiores que as de cartas, em medidas projetadas para fácil manipulação e geralmente em formato hexagonal ou quadrado.
²tabuleiro modular: cenário (“tabuleiro”) de jogo que se compõe de maneira flexível, adaptável, pela composição de partes que, geralmente, podem ser unidas de maneiras variadas.
³meeples: componentes (peças) que ativam a realização de ações nos jogos, geralmente representativas de personagens que compõem a narrativa.
⁴setup: preparação de componentes (peças, dados, tabuleiro(s) etc.) nas condições a partir das quais a partida deve iniciar.

---

Bárbara Côrtes é antropóloga e bailarina. Integra a JogaMana desde o grupo fundador e deve aparecer bastante por aqui.